Diante da evidente demora e desigualdade na distribuição das vacinas, qual a tua opinião no debate sobre a quebra das patentes?
A minha única opinião é a que já foi expressa, também, pelo Secretário-Geral da OMS, pelo Papa Francisco, insinuada por António Guterres e apoiada por Joe Biden (imagine-se!) – totalmente favorável à quebra de patentes.
É, também, a dos mais de cem Estados que já a manifestaram em sede da Organização Mundial do Comércio, em apoio ao desafio inicialmente lançado pela Índia e pela África do Sul. Mas, nesta sede, as decisões não são tomadas por maioria. É exigido o consenso.
Não é a de Van der Leyen (Presidente da Comissão Europeia), Angela Merkel, Macron, Boris Johnson ou da Suíça…
Não é a que o CDS, PSD e PS já manifestaram, expressamente, em sede da Assembleia da República e do Parlamento Europeu (aqui, com honrosa exceção para uma eurodeputada socialista).
E porquê?
Porque todo processo de investigação foi suportado, também, por vultuosos financiamentos públicos.
Porque as pessoas, a Humanidade, são muito mais importantes que os interesses dos oligopólios que compõem a Big Pharma.
Porque o que está em causa são largos milhares de vítimas mortais, dia após dia, sem sinais de abrandamento.
Porque cada dia expõe toda a humanidade a novos riscos – por que o vírus não respeita fronteiras, porque o prolongamento de altos níveis de infeção aumenta o risco de aparecimento de novas variantes que podem vir a revelar-se resistentes à vacinação atualmente disponível. E, aí, voltámos ao ponto zero.
Porque o levantamento das atuais restrições à exportação de vacinas por parte dos atuais países produtores, tão acenado pelos “eurogovernantes” como a chave para o problema, é uma não-solução. Porque, o que está em causa, é a incapacidade de produção, em tempo útil, de muitos mais milhões de vacinas /dia. E há países (sempre os mais pobres dos pobres) onde as vacinas ainda nem sequer chegaram.
E eis que esses que agora vêm publicamente chorar “lágrimas de crocodilo” pela catástrofe indiana, mal passado o lacrimejo fugaz e fingido, lá vêm com a decisão apenas e sempre determinada pelos interesses do vil metal.
Há, também, quem venha argumentar com a impossibilidade da produção generalizada de vacinas por dificuldades tecnológicas. Esta tem sido a linha de defesa da poderosa indústria farmacêutica.
Mas, diz quem sabe e fez da produção de medicamentos toda uma vida que a produção de vacinas não é assim tão sofisticada quanto aqueles nos querem fazer crer. E que em escasso horizonte temporal há a possibilidade de ser multiplicada a sua produção.
De resto, se aquela fosse uma razão minimamente atendível, não é suposto que aos mais elevados níveis da OMS, da ONU, do Vaticano e até do Capitólio a quebra das patentes, mesmo que temporária, fosse defendida.
Não! Já não se trata de uma mera questão política. É uma questão humanitária que abrange toda a Humanidade.
É poderá ser, também, o prenúncio de um novo holocausto.