1º de Maio – Dia do Trabalhador, dia de Luta ontem, hoje e no Futuro!

(Imagem via Agência Lusa)

Na véspera de mais um Dia do Trabalhador, das suas comemorações e manifestações em todo o Mundo, importa relembrar antes demais as suas origens.

Foi nos Estados Unidos e durante os primeiros dias de Maio de 1886 que teve lugar uma enorme jornada de luta cuja principal reivindicação era a exigência da jornada de trabalho de 8 horas diárias, numa altura onde em média os operários e operárias das fábricas trabalhavam jornadas diárias de 12 horas por dia, chegando por vezes às 16 e 17 horas!

A enorme amplitude de massas dos protestos e greves, juntando praticamente meio milhão de trabalhadores em todo o país, com epicentro na cidade de Chicago, uma das mais industrializadas à data, assustou o Capital que não hesitou em recorrer a todos os meios para reprimir os trabalhadores em luta. Já no dia 3 de maio, trabalhadores em greve de uma das maiores fábricas da cidade, a McCormick, confrontaram os “fura-greves” mas estes últimos contavam com a protecção da Policia e da agência de segurança privada Pinkerton que dispararam sobre os trabalhadores desarmados, resultando na morte de 3 pessoas. No dia seguinte, após uma macha de protesto a clamar justiça pelas vidas roubadas daqueles 3 trabalhadores, um novo confronto entre manifestantes e policia irrompe, quando no famoso Haymarket Square uma bomba explode no meio dos policias matando 8 deles.

Rapidamente as autoridades conseguem encontrar 5 sindicalistas “responsáveis” a quem atribuir as culpas pelo acto, condenando-os à morte na forca – os “5 de Chicago” a saber, Albert Parsons, Adolph Ficher, George Engel, August Spies e Louis Lingg. É importante relembrar os seus nomes pois estes 5 homens, trabalhadores e sindicalistas pagaram com as suas vidas um crime que não cometeram como ficou mais tarde provado, tendo o próprio governador do Estado do Illinois já em 1883, confirmado que o responsável moral pelo massacre de Haymarket havia sido o próprio chefe da Policia de Chicago que “encomendou” o atentado com o intuito de justificar a repressão que se intensificou.

Nos anos seguintes seguir-se-iam mais greves e manifestações um pouco por todo o Mundo e que em todos primeiros de Maio, evocavam o sacrifício dos mártires de Chicago ganhando assim uma dimensão, simbolismo e uma força verdadeiramente internacional(ista). Ainda em 1890 e mesmo sem ter nunca reconhecido o 1º de Maio como o dia do Trabalhador, o senado norte-americano foi obrigado a ratificar a jornada de trabalho de 16 para as 8 horas diárias. Seguir-se-iam já no século XX a Rússia, logo nos primeiros dias após a vitoriosa Revolução Bolchevique em 1917, e depois em França em 1919.

Mas este pequeníssimo resumo dos acontecimentos e origens do 1º de Maio serve “apenas” para lembrar que foi através da luta, luta de anos, de décadas mesmo, e em vários países que algo que pareceria “impossível” antes de ser conquistado e hoje, dado como “garantido”, não veio do “nada”, não foi “dado”. Foi exactamente isso, conquistado! Mas a luta pelos “três oitos” não pode nem é o “fim da história”. Muito menos hoje, principalmente hoje.

Hoje, em que a precariedade do trabalho por “outsourcing” que impede milhões de trabalhadores e trabalhadoras em todo o mundo de ter a estabilidade que os postos de trabalho permanentes que na esmagadora maioria das vezes ocupam, deveria garantir. Hoje, em que tantos e tantas trabalhadoras vêm os seus horários desregulados, com as “flexilbilidades” das “adaptabilidades” e “bancos de horas” que só servem um lado, o do patronato. Hoje, em que o trabalho por turnos continua em tantos lugares, como aqui mesmo em Portugal com regulação insuficiente ou até inexistente. Em que os trabalhadores das plataformas continuam a sofrer pressões do “lobby” dessas plataformas para não serem reconhecidos como o que são, trabalhadores por conta de outrem. Hoje, em que uma galopante inflacção volta a “normalizar” o discurso da “cassete” do neoliberalismo que “isto não dá para todos” e é preciso “apertar o cinto”, isto é, (cada vez mais) baixos salários. Hoje, em que as garantias conquistadas através da contratação colectiva são cada vez mais tornadas uma “miragem” longínqua e inatingível, aqui mesmo. Hoje, em que aqui mesmo, homens e mulheres, trabalhadores imigrantes que em muitos casos fazem trabalhos socialmente impreteríveis, desde do trabalho nos campos, às entregas de alimentos nas grandes cidades, são explorados numa realidade que hoje deve revoltar-nos a todes, vivendo em quartos sem condições, em prédios insalubres e a definhar, potenciando tragédias como na Mouraria (1) ou ainda há pucos dias no Porto (2). Hoje, em que centenas de milhares, um número cada vez maior de trabalhadores e trabalhadoras, são “expulsos” das cidades onde trabalham com rendas cada vez mais impossíveis para quem tem o SMN como rendimento ou pouco mais.

Hoje, em que a extrema-direita aqui mesmo e a reboque duma inusitada (e vergonhosa) cobertura mediática, desde logo das tv’s, a expensas não só da oposição ao governo à Esquerda no parlamento e suas propostas e politica de alternativa ao beco sem saída do neoliberalismo, mas principalmente, a expensas da visibilidade dos rostos e vozes dos e das milhares que vivem do seu trabalho e dos seus reais problemas e luta, aparece cada vez mais como “a oposição”, mas como sempre, tendo como único objectivo uma politica de aprofundamento das desigualdades, de rendimento, das desigualdades sociais no acesso à Educação, à Saúde, à Habitação e ao Trabalho com direitos. Basta ver a diferença de “tempo de antena” da manifestação convocada pelos fascistas e com participação da “liberal” IL no 25 de Abril, em relação aos milhares que estiveram na rua em todo o país, a festejarem os 49 anos da Revolução.  

Hoje, em que o modo de produção capitalista ameaça cada vez mais claramente a nossa própria existência e de todo o planeta, o mesmo que os fascistas e liberais têm como único caminho….

Mas não é! A classe trabalhadora continua a lutar, hoje mesmo. Vimo-lo na enorme e inspiradora luta pela Educação e Escola Pública. Vimo-lo com os jovens “ocupas” pelo clima. Vimo-lo nas várias lutas que todos os dias trabalhadores e trabalhadoras de todos os sectores, desde dos transportes, administração pública e local, ou da Saúde, das plataformas e tantos e tantas outras fazem. Vimo-lo com as manifestações pela Habitação e por uma vida justa, que juntaram milhares de trabalhadores e trabalhadoras dos “bairros” e da periferia. Todos aqueles e aquelas que se recusam a ser invisibilizadas.

O 1º de Maio é simbólico pela memória do que representa relativamente ao legado da luta pelas condições da classe trabalhadora de todo o mundo. Mas pode e é também um momento de festa, e mais importante, de renovação que interseccione hoje, as lutas laborais por menos tempo de trabalho, melhores salários e contra a selvajaria da precariedade de todos os e as trabalhadoras imigrantes, racializados, jovens e menos jovens, que tenha a real “identidade” de toda a classe plasmada na sua luta e reivindicações.

O 1º de Maio continua a ser hoje (mais) um dia de Luta, para que no futuro tenhamos um mundo mais sustentável, mais justo, mais empático, livre de todas as formas de opressão e exploração.

https://www.tribunapr.com.br/noticias/mundo/apartamento-com-mais-de-20-imigrantes-pega-fogo-em-lisboa/

https://www.jn.pt/local/noticias/porto/porto/vitimas-da-derrocada-de-predio-no-porto-procuram-solucao-na-seguranca-social-16261366.html

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