Trabalhadores dos Bares dos Comboios em luta

Os trabalhadores dos bares dos comboios de longo curso estão em greve por tempo indeterminado e irão manifestar-se amanhã, dia 1 de Março às 11h, frente ao Ministério das Infraestruturas. Pela segunda vez em 2 anos estes trabalhadores encontram-se sem salário, depois de em 2021 a concessão deste serviço ter passado da Ristorail, propriedade da LSG – Lufthansa Service Holding AG, para uma tal “Apeadeiro 2020”, uma empresa que, à data da assinatura do contrato, tinha um capital social de 5000 euros, e é propriedade de um inspector da CP[1]. Ao longo da pandemia, a luta destes trabalhadores conseguiu travar as intenções das concessionárias (com a indiferença da CP) de reduzir a qualidade do serviço (deixando de haver serviço ao lugar) e consequentemente o número total de pessoas necessário. Até aos anos 90, era a CP que recebia das concessionárias pelo direito de exploração, mas hoje este negócio é aquilo que se vê: instabilidade para os trabalhadores, e um serviço que volta a falhar, à semelhança do que aconteceu com as limpezas dos comboios em 2021[2].

É este tipo de caso que contribui para diminuir a qualidade do serviço ferroviário de passageiros, reduzindo a sua confiança e credibilidade. É comum que estas empresas, como a Ambiente & Jardim na limpeza, mudem frequentemente (quando muito, apenas de nome), com transmissão da maioria dos trabalhadores. Agora, novamente, uma empresa que recebe um valor fixo da parte da CP (3.447.360 euros) volta a alegar não ter dinheiro para pagar salários, e perante a urgência óbvia dos trabalhadores em saber quando é que vão receber o ordenado, apenas tem a dizer que aguarda o dinheiro do PRE (Plano de Recuperação de Empresas) do Estado, deixando claro o seu caráter de subsídio-dependente e inviabilidade.

Tem sido recorrentemente exigido pelos sindicatos do sector, a FESAHT[3], bem como pela Comissão de Trabalhadores da própria CP – Comboios de Portugal (reproduzido abaixo), que este serviço seja reintegrado na CP, de forma a que haja uma gestão integrada do serviço, seja garantida a sua regularidade e que estes trabalhadores usufruam dos mesmos direitos dos trabalhadores da CP. Estes trabalhadores são parte integrante da ferrovia, e dão muitas vezes “a cara” pela empresa, nos longo-curso lotados ao fim-de-semana em que um revisor é manifestamente insuficiente. É importante que nós, ferroviários da CP, lutemos também por estes nossos camaradas. Nas últimas décadas, foi precisamente a compartimentalização e divisão da ferrovia – quer em diversas empresas, quer em organizações sindicais – que nos retirou a força reivindicativa e a união sem a qual não podemos vencer na luta pelo nosso trabalho, pelo direito a uma vida boa e um trabalho digno, mas também por um serviço ferroviário capaz de ser a espinha dorsal da transição energética que urge realizar.

Igor Constantino,

Ferroviário da CP, Sub-CT de Campolide


[1] https://www.publico.pt/2021/07/31/economia/noticia/adjudicacao-novo-concessionario-bares-comboios-faz-cp-poupar-300-mil-euros-ano-1972630

[2] https://www.esquerda.net/artigo/trabalhadores-da-limpeza-dos-comboios-da-cp-param-ate-receberem-salarios/74879

[3] https://www.esquerda.net/artigo/trabalhadores-dos-bares-dos-comboios-sem-salario-e-ameacados-de-despedimento/85356?fbclid=IwAR0jSsHQw9feNvb9UlbdjuW9C3NX1sbOZbvyAraVNtApqaYdTp6UyQQUa1g

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