Recentemente, André Pestana, Presidente do Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (S.TO.P.), tem sido acusado de ser ligado ao Partido Chega, logo, fascista.
Recorri à definição de fascismo para perceber que informações privilegiadas terão essas pessoas para o acusar de tal coisa. Suponho que saberão, com provas concretas, que André Pestana dirige o S.TO.P. ditatorialmente e que usa “repressão da oposição por via da força e forte arregimentação” da base deste sindicato.
Eu, que o conheço há quase 30 anos, dos quais 15 militei com ele nas mesmas organizações, pus-me a pensar…
Conheci o André Pestana com 16 ou 17 anos porque ele jogava basquetebol no mesmo clube de um amigo que nos colocou em contacto. Esse Clube era o Sport Clube Conimbricense — primeiro campeão nacional de basquetebol em Portugal — situado na baixa de Coimbra, sendo reconhecidamente ligado à classe operária e onde jogavam vários jovens ciganos.
Nessa altura, o André Pestana estava ainda na JCP. Pouco depois rompe com esta juventude partidária por fazer uma avaliação da experiência socialista soviética diferente da que era feita pela maioria. Não consta que tenha sido expulso por defender ideais fascistas.
Depois da rutura com a JCP veio a união com o Ruptura. Ou seja, em vez de ficar quieto e desmoralizado, juntou-se a uma organização estudantil com atividade em Coimbra, ligada à extinta FER (Frente de Esquerda Revolucionária), onde prosseguiu a luta pelos seus ideais.
Rapidamente fui convencido a juntar-me a ele e, assim, lá fui parar ao Ruptura. Esta organização, em Coimbra, dedicava-se maioritariamente à luta estudantil, numa altura em que o governo de Cavaco Silva e posteriormente de António Guterres nos queriam impor as propinas, a nova lei de bases da Educação e, mais tarde, o processo de Bolonha. O modus operandi era simples: radicalizar as Assembleias Magnas da academia de Coimbra, quando estas ainda enchiam o Teatro Académico Gil Vicente, com propostas como greves por tempo indeterminado com piquetes à porta das faculdades e manifestações em Lisboa junto ao Ministério da Educação. Seriam estas táticas fascistas? Não me parece. Até porque, também nesse período, integrámos 3 listas que concorreram à Direção-Geral e Conselho Fiscal da Associação Académica de Coimbra, tendo ele sido o cabeça de lista em duas dessas ocasiões. Lembro-me que, nessas listas, pessoas como Raquel Varela, Luís Franklin, Renato Teixeira, Renato Guedes, Ana Rajado, Daniel Martins, Ana Sofia Ligeiro ou Paulo Jorge Vieira, que as integravam, nele confiavam e viam ter características importantes para exercer uma liderança firme na afirmação das convicções, mas sempre escutando a base. Nenhuma destas pessoas se apercebeu do que André Pestana fosse fascista, caso contrário tê-lo-iam enfrentado ou fugido a sete pés.
Lembro-me particularmente do que o Peste me dizia, perante a imposição da Lei de Bases da Educação, que equiparava os bacharelatos dos Politécnicos às licenciaturas das Universidades: “A nossa luta não é contra o Politécnico, mas sim contra o governo, que quer, através desta lei, dividir o movimento estudantil para reinar”. Também me lembro que, por sugestão minha, mas com o apoio dele, colámos cartazes a apelar à unidade na luta em alguns dos polos do Instituto Politécnico de Coimbra.
No final do milénio o Ruptura/FER integra o BE e eu, por razões pessoais, abandonei a política ativa. Ele por lá ficou, integrado nessa corrente. Uns anos depois, essa corrente, devido a divergências com a direção, abandonou o BE com a intenção de criar um novo partido, o MAS. Não consta, novamente, que tenha sido expulso por defender ideais fascistas.
Nessa altura voltou a contactar-me, conseguindo ressuscitar-me para a política ativa. É verdade, o Peste trouxe-me para a militância duas vezes! E eu fui apenas uma das suas “vítimas”.
Por ser professor e por andar com a casa às costas na zona de Lisboa, sindicalizou-se e tornou-se delegado sindical no Sindicato de Professores da Grande Lisboa, o SPGL. Nessa altura ia aos plenários do sindicato e propunha greves por tempo indeterminado, unidade de luta com sindicatos da CGTP que representassem o pessoal não docente e fundos de greve, porém, em minoria, nunca conseguiu que essas propostas fossem aprovadas. Apesar de ter as propostas rejeitadas, nunca foi acusado de fascismo.
Em 2013 cria o movimento Boicote e Cerco que lutava contra a prova de avaliação de conhecimentos e competências (PACC), que o Ministério pretendia impor a professores não efetivos. Este movimento apelava a que a PACC fosse boicotada por quem era obrigado a fazê-la e que, para esse efeito, fossem feitos piquetes à porta das escolas onde se iam realizar as provas. Graças a este movimento, conjuntamente com a greve convocada pela FENPROF para os vigilantes da prova, a PACC foi suspensa por alguns meses, para depois ser definitivamente anulada um ano e meio depois por inconstitucionalidade. O que tenho visto por cá, da parte do partido fascista, são ataques à Constituição.
Sai da Fenprof devido a divergências nas formas de luta adotadas, entre outros motivos, e, em 2018, cria o S.TO.P., na altura apenas sindicato de todos os professores, prometendo formas de luta mais incisivas e acordos feitos com a aprovação das bases. Note-se que a criação deste sindicato ocorre um ano antes da criação do partido Chega. Ainda assim parece que, ignorando totalmente os factos, há gente a sugerir que, sem existir, o Chega criou o S.TO.P.

Pouco tempo depois cumpre mais uma etapa do seu plano de unir, no mesmo sindicato, todas e todos os profissionais da educação.
Em 2020 saio do MAS, em conjunto com um grupo de militantes, com a intenção de criar o Semear o Futuro. Antes de o fazer, informo o Peste da minha decisão. Não me tentou calar, não me tentou agredir… Apenas tentou convencer-me a abandonar a ideia, tal como eu tentei que nos acompanhasse. Apesar de termos seguido caminhos diferentes, mas sempre do mesmo lado da barricada, continuei a admirá-lo, a apoiar o seu trabalho sindical e a considerá-lo uma referência política.
Por isso, foi com muito espanto que após a convocação (e sucesso) desta greve por tempo indeterminado, com piquetes à porta da Escola e à qual, já em 2023, se junta o pessoal não docente, deparo com a ideia peregrina de que tudo isto são táticas fascistas de um sindicato criado pelo Chega. Tudo táticas que sempre quis implementar nas organizações e lugares onde militou.
Relembrando tudo o que passámos juntos e o que vejo agora, percebi o seguinte: Aquele jovem que lutava pela Educação com métodos de luta que causavam dores de cabeça ao governo e que impactavam na comunidade estudantil, unindo o setor universitário e politécnico, não era fascista e nunca foi acusado de tal coisa. Logo, agora, este homem que luta pela Educação com métodos de luta que causam dores de cabeça ao governo e que impactam positivamente na comunidade escolar, unindo docentes e não docentes, também o não é.
Percebo agora que deve ter sido uma falha do corretor automático dessas pessoas, pois André Pestana é fascinante, mas nunca fascista!
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