A aposta da esquerda deve ser a da amplificação das lutas sociais, ajudando-as a convergir numa plataforma de oposição de esquerda ao Governo. Só através de uma polarização à Esquerda se pode garantir que o esvaziamento da maioria do PS não abre espaço a um vácuo político que seja antessala do que a direita perspectiva: um governo que una a revanche troikista e o ódio neofascista. Só através da amplificação e radicalização das lutas sociais o poderemos fazer.
As frentes da saúde e da educação publicas são estratégicas neste processo. As lutas das e dos professores são tradicionalmente um dos pontos de apoio para mobilizações massivas neste terreno. Nestas frentes, há que dobrar a aposta.
A esquerda de combate, não-sectária, tem a tradição de apoiar as lutas justas, mesmo quando discorda dos seus timings, métodos de convocação ou com a orientação política dos seus convocantes. Distinguir as direções das bases, os cálculos políticos das lideranças da mobilização por baixo, é essencial. Quantas vezes apoiamos lutas que sabemos serem convocadas mais por agendas partidárias do que por outro motivo? Fazemo-lo, e bem, porque temos confiança nas lutas populares, apesar de quem as dirige e porque, inclusive, as insuficiências das direções só podem ser superadas na luta.
Perante os ataques do governo, a greve de professoras e professores que amanhã se inicia pode ser um elemento de mobilização e radicalização de um setor essencial da classe trabalhadora. Pode também ser só mais uma greve, justa, mas simbólica, como tantas outras que apoiámos. Podemos dizer que quem a convoca teve o mérito de sentir a insatisfação nas bases e dar-lhe expressão; ou que até um relógio avariado está certo duas vezes por dia.
O que é certo é que a luta que amanhã se inicia é justa e tem potencial. E que os restantes calendários de luta, ainda que, pelo mesmo critério, mereçam apoio, são insuficientes. Por isso, apoiemos com todas as forças a greve de professoras e professores que amanhã se inicia. Quanto mais amplo o leque de alianças e apoios, menor o risco de afunilamento. Sobretudo, quanto maior a mobilização e as eventuais conquistas, mais avançará a luta de um campo social que luta por salários, direitos e justiça social.
(Foto de João Vasconcelos)