Não à Guerra!

Ontem o mundo acordou com notícias de guerra. E com sua consequência imediata: imagens de desespero da população ucraniana procurando abrigo e refúgio de mais essa guerra motivada por disputas imperialistas. Como sempre, a população ucraniana será quem paga o preço dessa guerra. Milhares de mortos, vidas destruídas, ondas de refugiados em condições sub-humanas – isso é o que essas guerras imperialistas têm a oferecer aos trabalhadores e povos do planeta. Nos nossos tempos é o que o sistema capitalista oferece aos povos de todo planeta, guerra, desemprego e miséria. 

Estas são notas iniciais sobre uma situação complexa, ainda assim queremos contribuir nos debates que se abrem e às reflexões à esquerda.

A guerra na Ucrânia não é um conflito isolado. Ela reflete a crise geopolítica da atualidade, entre, por um lado, o imperialismo norte-americano e seus parceiros, e, por outro, um bloco imperialista emergente, liderado pela China e tendo a Rússia como potencial aliada. É uma disputa entre potências pela hegemonia da ordem capitalista mundial pelos recursos, mercados e força de trabalho. Nenhum dos lados representa liberdade ou autodeterminação para os trabalhadores ou povos de qualquer parte do planeta. Este é, portanto, um conflito global por uma nova divisão do mundo, ou pelo menos de partes dele. Os acontecimentos na Ucrânia só podem ser entendidos nesse contexto. 

Assim, a disputa imperialista tem vários lados. A NATO nunca parou o seu projeto de expansão no Leste Europeu, chegando cada vez mais próximo das fronteiras russas, com o claro intuito de a isolar do resto da Europa e deter o avanço da sua influência na região e no mundo. Mesmo com as diferenças e contradições entre si, o governo dos EUA (Biden) e britânico (Boris Johnson) com seus pares Alemão (Scholz) e Francês (Macron) têm acordo com esta estratégia. Mesmo com diferentes graus de relacionamentos e dependências econômicas e comerciais com a Rússia – a política desses blocos imperialistas frente à expansão da NATO, e às disputas com a China e a Rússia vem seguindo o mesmo tom.

Dentro deste contexto, quem hoje está a invadir a Ucrânia é o governo Russo. A Rússia é um país capitalista, sob um governo autoritário, de ultra-direita, que exerce forte (e opressiva) influência regional, especialmente nas regiões que eram parte ou influenciadas pela antiga URSS. Putin reivindica o projeto expansionista e opressor da velha Rússia Czarista inspirada em Pedro, o Grande, cuja foto ostenta em sua sala. Da antiga União Soviética, o Estado Russo herdou um poderio militar que é superior ao seu poder de influência na esfera econômica, política e diplomática, e coloca-o ao serviço de seu projeto de expansão de poder. A consolidação da aliança geopolítica com a China, aprofundada na recente reunião entre os dois países em Pequim na abertura dos jogos olímpicos, mostra que há uma tentativa de formação de um bloco para lutar contra o imperialismo americano, ainda que a Rússia não tenha o mesmo potencial económico que a  China. 

Tanto a NATO quanto a Rússia (e China) competem pelo potencial de explorar outros países e outros povos. É uma disputa entre as elites desses países sobre quem vai explorar os recursos e oprimir e explorar trabalhadores e nacionalidades ao redor do mundo

A Esquerda não pode aderir à propaganda do imperialismo ocidental nem à invasão russa 

Sabendo que o que está por trás da invasão da Ucrânia é uma disputa entre potências pela divisão do mundo e a exploração dos povos, a esquerda deve posicionar-se, antes de mais, contra todos os imperialismos. Antes de mais, cada partido e organização deve lutar contra as iniciativas pró-imperialistas dos governos dos seus países. Ao mesmo tempo, não pode deixar de se opor a todas as agressões quando elas acontecem.

 Pelo que há dois erros simétricos a evitar. O primeiro erro seria absolutizar o papel opressor de Putin, e o fato de ter iniciado a agressão militar propriamente dita, colocando-se ao lado da NATO e das potências ocidentais, como se esses estivessem ao lado da autodeterminação, democracia e liberdade do povo ucraniano. Por isso nos opomos completamente ao envio de tropas, aviões e navios e outro material militar português para o Leste europeu sob o comando da NATO, já anunciado e a ser aplicado.

O segundo erro é o de encarar Putin como um campo anti-imperialista, portanto progressivo. A isso se mistura a simbologia de ambos os países terem sido, no século passado, Estados operários e atualmente se colocarem em choque contra o ainda imperialismo hegemônico no mundo, os EUA.

Putin passa longe de ser um líder anti-imperialista, muito menos progressivo ou de esquerda. Pelo contrário, como dissemos, seu Projeto grão-russo é o de expandir a dominação de Moscovo por toda a região, nos campos económico e militar, oprimindo nacionalidades e direitos democráticos – como faz dentro da própria Rússia, perseguindo ativistas, opositores, nacionalidades oprimidas e a comunidade LGBTI+. A máquina militar-policia russa atua contra mobilizações populares em países sob sua influência, como fez recentemente na Bielorrússia e no Cazaquistão, sufocando manifestações que exigiam liberdade e melhores condições para os trabalhadores daqueles países.

Para além disso, Putin é um dos organizadores da onda de extrema-direita que varreu o mundo no último período. As ligações do governo de Putin com a extrema-direita europeia são mais que notórias. O recente discurso de Putin, dizendo que o ataque à Ucrânia seria “parte do processo de descomunizar o país” e a afirmação descabida que a Ucrânia seria “uma invenção de Lênin” mostram o que é o projeto grão-russo: conservador, reacionário e imperialista.

Assim terminamos esta nota inicial transmitindo uma imensa solidariedade aos povos que sofrem nesta guerra. Esse é o nosso campo. Opomo-nos à invasão da Ucrânia por Putin, mas nem por isso caímos na propaganda do imperialismo ocidental. A paz por que lutamos é uma paz dos povos, que só pode ser conseguida por uma retirada de ambos os blocos militares do Leste da Europa. Exigir a paz quando se está armado até aos dentes, mais não é do que ameaçar com a guerra. É por isso que somos pelo fim da NATO. Reafirmamos, por isso, a nossa oposição ao envio de tropas portuguesas e de material militar para o Leste da Europa. Não aceitamos que o governo português promova a guerra em nome da paz.

Apelamos à esquerda, aos movimentos sociais e a todas e todos os trabalhadores, de Portugal e do mundo, para se mobilizarem contra a guerra, lado a lado. Nenhum povo deve ser carne para canhão das disputas imperialistas. Um outro mundo é necessário e urgente. 

NÃO À GUERRA!

FIM IMEDIATO DA OPERAÇÃO MILITAR RUSSA! 

RECUO DA NATO DO LESTE EUROPEU! 

NENHUMA PARTICIPAÇÃO MILITAR PORTUGUESA NO CONFLITO!

Fotografia de Vadim Ghirda / AP / Shutterstock

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