Viragem à direita
A crise adensa-se. A vida está bem mais difícil que no período anterior à pandemia para a generalidade da população, em particular e de forma aguda para os sectores mais explorados e oprimidos da classe trabalhadora. As condições de trabalho são piores, crise de habitação, inflação na maioria dos produtos essenciais, cada vez há mais mês que salário. A 5ª vaga da pandemia junto com a nova variante Omicron coroam um inverno difícil. O isolamento social, as dificuldades gerais e o avanço da campanha da direita consolidam um sentimento individualista, menos solidário e mais competitivo.
Não só não há grande espaço para cedências à classe trabalhadora por parte da burguesia como cada vez mais tenta impor novos planos. A manutenção de uma economia baseada em baixos salários, precariedade, privatizações, desmantelamento de serviços públicos, turismo, especulação imobiliária, super-exploração de imigrantes é inegociável para a burguesia.
A pressão para um governo mais estável e (principalmente) que não dependa da esquerda é evidente. António Costa deixa de repetir diariamente que é de esquerda e passa a centrar o discurso que é preciso ajudar as empresas em dificuldade, e numa solução com o PSD de Rui Rio, que também já mostrava essa abertura e sai bastante reforçado das eleições internas. A própria discussão estar centrada no bloco central é demonstrativo de uma viragem à direita.
Desgaste do Governo e do PS
O desgaste do governo e do PS só aumenta. Já vai longe o tempo do “milagre Português”, ficam os avanços e recuos nas medidas de combate à pandemia, os aumentos dos preços alimentares e de primeira necessidade, combustíveis, habitação e energia. Não há nenhum ministro ou ministra popular, Cabrita demite-se num dos maiores e prolongados desgastes de um ministro de sempre, Francisca Van Dunem diz que já não queria estar no governo faz um tempo, a própria ministra da saúde Marta Temido, desgastada e exausta, diz que faltam profissionais de saúde resilientes.
Isto não quer dizer que o PS esteja fora de jogo, a pressão do voto útil contra a direita mantêm-se. Assinalamos é que os elementos de crise aumentam e parecem ser a principal tendência, assim como a viragem à direita, recuo na consciência e a nova situação parecem reforçar a ideia de que não há espaço para concessões.
Direita e extrema direita no Governo?
O PSD consegue relocalizar-se consolidando o impulso das autárquicas. Rui Rio mostra que é um político hábil não só ao conseguir ganhar as eleições internas mas ao sair reforçado e a fechar vários flancos. Aparece como o candidato das bases contra o aparelho e deixa portas abertas para vários tipos de governo consoante os resultados eleitorais. Um apoio a um governo minoritário do PS, um governo minoritário do PSD com apoio do PS ou um governo da direita coligada incluindo o Chega. Importa ter atenção que a possibilidade de uma vitória eleitoral do PSD, não sendo certa é possível. Convém lembrar o que se passou nas autárquicas, em Lisboa, em que ninguém esperava a vitória da direita
Por seu lado, a Iniciativa Liberal (IL) coloca-se em bicos de pés e predispõem-se a ir para um governo “não socialista”, não negando “a possibilidade de estar num governo com o Chega, reivindicando a experiência do Governo Regional dos Açores, onde IL, Chega e CDS se juntaram, com a bênção de Marcelo, para dar o poder ao PSD”[1].
O Chega já demonstrou reiteradamente que também quer ir para o poder juntamente com os restantes partidos de direita. Apesar das críticas à liderança de Rui Rio, mal ficou conhecida a sua vitória no PSD, André Ventura começou por suavizar as críticas na perspectiva de vir a integrar um novo Governo de direita. A normalização do Chega é um facto consumado e embora torne a luta mais difícil também a torna mais necessária e urgente. O caso do CDS é muito difícil, mas é evidente a sua vontade de participar numa grande coligação à direita para voltar ao poder, a questão é se tem força para isso dado o seu estado calamitoso.
Contra a volta da direita ou do bloco central vota à esquerda, vota bloco!
Caso o PS ganhe as eleições já se mostrou disponível para se aliar ao PSD e não à esquerda. Por sua vez, o PSD também não excluiu sustentar um governo do PS. Assim o “bloco central” é uma das possibilidades para a direita voltar, pelo menos, a influenciar o poder e caso os resultados lhes permitam unir-se com os neofascistas do Chega, para voltar ao poder.
Só o voto à esquerda, sobretudo no BE, vai conseguir evitar um governo com a influência ou participação da direita. Quem esteja realmente preocupado com a volta da direita ao poder, mais trauliteira e reaccionária, das privatizações, dos cortes e redução de salários e rendimentos, seja pela via do Bloco Central ou de uma Coligação de toda a direita, o melhor que tem a fazer é reforçar e votar útil à esquerda e isso significa votar em quem faz frente aos poderosos e ricos e não abandona a luta da classe trabalhadora na sua diversidade, o Bloco de Esquerda!
[1] https://semearofuturo.com/2021/12/10/iniciativa-liberal-abre-portas-a-rio-e-a-ventura/