Alcindo, o Filme

No passado Domingo, dia 24 de Outubro estreou a longa metragem documental “Alcindo”, na Sala Manoel de Oliveira do Cinema São Jorge, parte do DocLisboa. Uma sala cheia para assistir ao filme realizado por Miguel Dores, com apoio de Beatriz Carvalho na pesquisa e André Mendes na montagem, em colaboração com várias ativistas e com apoio do SOS Racismo, o filme é fruto também de uma campanha de crowdfunding. A apresentação, feita pelo realizador e pelo sobrinho de Alcindo Monteiro, Valter Monteiro, reforçou a atualidade do documento, realçando que, embora o assassinato de Alcindo tenha sido há 25 anos, a discriminação quotidiana persiste, as agressões e os assassinatos continuam, apoiados no discurso de ódio que se vem novamente reforçando.

O filme é um retrato da vida de Alcindo Monteiro, pelas palavras da sua família e amigos, uma homenagem a um jovem de 27 anos que hoje deveria estar entre nós e que morreu às mãos do racismo, do colonialismo e da opressão sistêmica. É um testemunho da noite de 10 de Junho de 1995, noite em que um grupo de skinheads percorreu o Bairro Alto atacando desenfreadamente as pessoas negras que encontravam pelo caminho durante mais de duas horas. O filme é também uma ferramenta política importante, desfazendo os nós em torno das organizações nacionalistas de extrema-direita que se organizavam e se re-organizam hoje, que veiculam a ideia de Europa dos brancos, com fronteiras, leis e armas que permitem separar as pessoas consoante a cor da pele e origem étnica, à semelhança da memória histórica de um Portugal grandioso e conquistador, onde o lugar reservado às pessoas racializadas é um de subalternidade e vassalagem. O documentário coloca em cima da mesa a conivência dos políticos, o silenciamento dos factos, as raízes do racismo e o porquê da sua durabilidade na sociedade – ouvimos Lúcia Furtado, General D, Mamadou Bá, entre outras e outros – explicando que não vivemos num país livre de racismo, mas sim num país de violência policial, de segregação urbana, de impunidade, mas também num país em que se erguem vozes, corpos e propostas políticas antirracistas que nos mostram que outro caminho é possível. Um importante testemunho das lutas antirracistas que se trilham, desde a morte de Alcindo até hoje,  para pôr fim às desigualdades, combater o racismo e construir outro mundo. Um mundo onde não cabe ódio nem opressão, um mundo onde se vai dançar para o Bairro Alto num sábado qualquer e no dia seguinte se almoça em casa da mãe. 

“Racistas fascistas não passarão!” e palmas imensas encheram a sala no final do filme, em homenagem a Alcindo e quem sofre na pele o racismo mas também num grito antirracista que vem crescendo e que não pode dar trégus.

Um filme demasiado importante para não assistir – aguardamos por mais exibições que iremos divulgar.

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