A marcha do orgulho LGBTI+ de Lisboa estava marcada para o passado sábado, dia 19 de Junho e foi cancelada pela organização no dia anterior após um parecer negativo da DGS à sua realização.
Ainda assim centenas de pessoas compareceram apesar do cancelamento e desceram a Avenida da Liberdade com orgulho. A realidade das LGBTI+ ficou mais difícil no último período. A pandemia e a degradação das condições de trabalho e habitação foram sentidas pela população de conjunto, mas o distanciamento social nos isolou mais, pois pela LGBTI+fobia o nosso “isolamento” já existia. O isolamento social faz com que as pessoas estejam mais na sua bolha, isoladas de outras realidades que não a sua. Passamos muito mais tempo nas redes, em que consumimos o que o algoritmo decide nos dar, junto com o aumento das redes de fake news e de extrema direita cada vez mais consolidadas e com grande alcance. Mesmo que não seja um eixo actual da extrema-direita, a LGBTI+fobia faz parte do seu ADN e nas redes circulam livremente conteúdos que promovem o ódio contra as pessoas LGBTI+. Isso sente-se nas ruas e 9 polícias abordarem um casal lésbico num jardim de Lisboa após uma denúncia é o melhor exemplo.
Assim, e sendo que a marcha do ano passado não aconteceu devido à pandemia, foi importante marchar este sábado. Como era o lema da marcha “desconfinar direitos” também é necessário desconfinar a luta das LGBTI+ contra os retrocessos. Após uma ano e meio de pandemia vemos que é possível fazer protestos de rua sem estes se tornarem focos de infecção desde que as medidas de segurança sejam cumpridas, como o distanciamento, uso de mascara e desinfecção das mãos. A Avenida da Liberdade é grande o suficiente para garantir estas condições. O parecer da DGS é no sentido de não se responsabilizarem e após meses de contacto por parte da organização da marcha respondem dias antes negativamente e como se de uma festa de tratasse. A organização da marcha deveria ter mantido a marcha redobrado esforços para garantir a segurança de todes. Não podem ser apenas os eventos lucrativos a ter autorização para se realizarem. Entendemos que a situação em Lisboa é grave e que a vacinação já deveria estar muito mais avançada, ainda assim lutar pelo direito das LGBTI+ existirem livremente é um serviço essencial que deve ser mantido. Fica a sensação de que alguns sectores da organização da marcha preferiram ter a marcha numa altura mais rentável do ponto de vista comercial e turístico.
É muito bom termos pessoas de todo o mundo na marcha de Lisboa, são todes muite benvindes. Mas esse não pode ser o critério, a marcha é para avançar nos nossos direitos, não para promover o turismo na cidade. Fala-se que a marcha pode ser adiada para Setembro. É positivo se assim for, para de forma mais massiva que dia 19 se ponha o orgulho na rua. Deve também se fazer um esforço no sentido de envolver as novas gerações de activistas na organização da marcha e desenvolver fóruns de debate para discutir o presente e o futuro do movimento. Saudamos todes que foram à rua no sábado e que desceram a Avenida da Liberdade mesmo com a pressão e intimidação por parte da polícia.
Eram várias centenas de pessoas, muita juventude, muito diversa, migrantes, pessoas racializadas e mulheres. Gritaram palavras de ordem, cantaram e dançaram com orgulho.