Ceuta: uma reflexão

Quando voltamos os olhos para o que se passa neste momento em Ceuta podemos sentir uma certa estranheza, uma vez que vivemos num estado e numa União Europeia que desenvolvem com certa frequência uma série de atividades e iniciativas “em defesa dos seres humanos”. Ver a imagem de bebes, crianças e jovens prestes a se afogarem, alguns amarrados a garrafas de plástico e vermos nos rostos de todas elas a imagem do terror pode trazer uma certa desconfiança quando contrastamos essa experiência com a teoria de que “o estado de direito *inserir qualquer alusão ideológica sobre a natureza das coisas ou deveres no abstrato*.

Mas, direitos e dignidade para quem?

O termómetro que marca o quão humano ou humanitário é alguém parece ter um critério racial bem presente e nesses momentos parece esquecer as várias intersecções das várias opressões. A foto da voluntária branca a abraçar um homem negro desesperado é contrária ao clima que se tem vivido em Ceuta. Não por parte do homem negro desesperado, digo. O desespero de pais e mães ao verem suas crianças amarradas a garrafas de plástico existe, o que não tem existido é uma postura humanitária por parte da Europa.

Não existe no momento de oferecer uma receção hipermilitarizada, digna do termo “europa-fortaleza” e não existe quando essas mesmas pessoas são forçadas a trabalho escravo em Odemira ou em Andaluzia. Sem garantia de educação, saúde, moradia ou garantia dos recursos mínimo à vida com dignidade.

Fugir de violência não é crime. Procurar uma vida melhor não é crime. Emigrar não é crime. Crime deveria ser deixar que vidas se percam pelo mar por privilégio de uma lógica economicista e racista.

Fugir de violência não é crime

As vidas das migrantes importam. A dignidade humana importa. E nada disso deveria estar à venda ou à mercê de acordos obscuros entre estados.

Se a Europa é mesmo uma europa dos direitos e da defesa da dignidade humana, pois então não deve menos que asilo e legalização imediata de todas essas pessoas porque documentos são sinónimo de direitos. E que essa receção humanitária, sem recurso a militares, seja adequada às necessidades de cada uma das pessoas como informação e auxílio específico para as pessoas LGBTI’s, como informação e auxílio específico para mulheres e crianças.

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