Desde finais de 2020, o Bloco de Esquerda tem protagonizado uma viragem essencial para esquerda, um caminho audaz de luta, para lá das insuficiências do ciclo anterior. A sua XII Convenção, nos dias 22 e 23 de maio no Porto, será um momento privilegiado para prosseguir esse novo rumo.
Portugal e o Mundo vivem de crise em crise. Crises financeiras, a que se juntam as climáticas, geopolíticas e até militares, para não falar das sociais, pontuadas por leves recuperações intercalares. Lembramos ainda a crise capitalista de 2008 e o trauma da Troika, da austeridade e do desemprego, para sempre associadas ao Governo das direitas.
A superação parcial dessa crise viu uma recuperação insuficiente de direitos e emprego. Foi o ciclo da Geringonça, a inédita solução que juntou PS, Bloco e PCP. Apesar do mérito inicial de afastar a direita do poder, essa solução abriu um ciclo de governação ao centro, com a esquerda presa ao Governo e os trabalhadores e o povo órfãos de alternativa. Esse ciclo está agora para trás: a crise está de volta.
Um novo ciclo
A pandemia e a crise económica são agora o novo normal. Ambas nasceram de uma economia doente que prioriza os lucros à vida. O regresso ao passado recente está excluído: no novo ciclo, que será de tensões e lutas sociais, resgatar as vidas de quem trabalha exige soluções radicais. Ou serão os bancos, os ricos e os poderosos a pagar pela crise, ou serão de novo os trabalhadores – em particular as mulheres, as LGBT, os trabalhadores racializados e imigrantes. Já não há espaço para governar para o Capital com um piscar de olhos ao trabalho. A esquerda tem de se impor como alternativa radical, à direita e à extrema-direita que a canibaliza, mas também ao “extremo-centro” representado pelo PS e António Costa.
É neste contexto que acontece a XII Convenção do Bloco. Ela terá importância estratégica e pode reforçar toda a esquerda e a luta dos explorados e oprimidos para enfrentar o novo ciclo de crise – ela não deve almejar menos que isto.
O BE tem, desde quando votou contra o Orçamento de Estado para 2021, adotado um nova postura que deve ser um exemplo para toda a esquerda. Não foi de uma oscilação conjuntural. O Bloco tem acirrado a oposição ao Governo, com propostas radicais no combate à crise: foi o primeiro a falar da quebra de patentes das vacinas e quem mais insistiu na requisição civil da saúde privada. Tem também reforçado os vínculos com a luta antirracista – sendo a candidatura de Beatriz Gomes em Lisboa um importante sinal – e o combate antifascista, sem nunca falhar às lutas laborais.
Unir as lutas e a esquerda
A XII Convenção poderá oferecer um horizonte estratégico a esta viragem política. Pode reforçar uma oposição ao Governo, 100% à esquerda, que proponha alianças para um horizonte de disputa do poder.
Como sempre, a política de unidade será determinante. A crise tornou impraticável qualquer aliança duradoura com o PS, a nível nacional ou local, mas isso não deve significar uma posição cómoda de mero protesto. Desafiar o resto da esquerda para uma convergência, na defesa de que sejam os ricos a pagar a crise, em oposição ao Governo e à direita, é incontornável.
Continuar a apoiar e unir todas as lutas, por uma resposta à crise construída de baixo para cima, é essencial. A partir delas, pode erguer-se um programa anticapitalista de resposta à crise. É possível uma resposta centrada no pleno emprego com direitos, numa transição energética assente na justiça climática, no desmantelamento do racismo sistémico e na socialização dos cuidados, reforçando o SNS, a educação, a habitação e os serviços públicos.
Estas e outras poderão ser as bases de um novo ciclo de lutas e alternativa. Delas pode surgir uma ampla aliança da esquerda, dos trabalhadores e dos movimentos sociais, para virar a fatura da crise. As lutas que têm surgido nas empresas, o reforço do movimento antirracista, climático e antifascista, assim como os novos ventos feministas, mostram que, por baixo, há energia para lutar.
Estamos seguros que a Convenção vai decorrer da melhor forma e permitir aos camaradas fazer as análises e retirar as tarefas necessárias para o fortalecimento da alternativa de esquerda que o país precisa.
Apostamos solidariamente, como camaradas, as nossas forças e expectativas na XII Convenção do Bloco, confiantes de que será mais um passo adiante num novo ciclo, 100% à esquerda.