É com entusiasmo que assinalamos a escolha da cabeça de lista do Bloco de Esquerda (BE) para a Câmara de Lisboa. Beatriz Gomes Dias, uma mulher negra, com um grande percurso de luta antirracista, entre outras. Esta escolha é importante, por ela ser quem é, mas também porque mostra a atenção ao que se passa nas ruas em Portugal e no mundo.
Os tempos que vivemos não são fáceis – pandemia, crise económica e social, alterações climáticas e crescimento da extrema-direita com o seu discurso reaccionário – não nos deixam antever um caminho fácil na luta pelo socialismo. Mas, também é certo que é das dificuldades que surge a força necessária para o alcançar. E também é verdade que, no ultimo ano, também assistimos pelo mundo e, sobretudo nos EUA, a mobilizações como as do Black Lives Mattter (BLM). Num momento, em que o discurso racista e de ódio se normalizou na sociedade portuguesa, em que se considera normal um deputado mandar a deputada Joacine Katar Moreira para “a sua terra” e se realizam petições a pedir a extradição do cidadão português Mamadou Ba, a escolha da Beatriz foi uma decisão corajosa e acertada por parte do BE.
Na última década, a cidade de Lisboa sofreu fortes intervenções e mudanças. Nomeadamente pelo crescimento do turismo, o que trouxe grandes implicações na habitação, que se repercutiu num impacto negativo para a população trabalhadora e pobre de Lisboa.
Subscrevemos a declaração da Beatriz quando diz “Acredito que é possível construir uma outra Lisboa: uma cidade mais habitável, mais inclusiva, mais solidária, menos desigual e com mais memória. Uma Lisboa com coragem e determinação para enfrentar a crise social que vivemos, a emergência climática, o racismo e todas as discriminações”.
Este é o projecto do BE que além de ser diferente, é também oposto ao projecto da direita ou do PS. O PS tem, na verdade, desenvolvido um projecto de exclusão em Lisboa que assenta na transformação de uma cidade virada para o turismo e a especualção imobiliária, que tem como consequência o afastamento das populações pobres, trabalhadoras, negras e ciganas para a periferia.
A candidatura de Beatriz Gomes Dias é a que pode abrir espaço ao combate efectivo ao racismo e ser a alternativa que a cidade de Lisboa necessita. Uma alternativa que se bata pelo que a direita não quer e o PS não faz: combater o Capital e priorizar oa classe trabalhadora, ou seja, os 99%. É preciso e é possível um plano e um programa que se oponham frontalmente às ideias reacionárias mas também à especulação imobiliaria. Esta candidatura tem a potencialidade de ser a referência no combate ao fascismo e à direita dita moderada que a normalizou; quem pode trazer a luta pela habitação, feminista, pelo clima, mobilidade e antirracista para o centro do debate; em quem não falha às lutas das precárias e está na linha da frente pelo SNS.
Esta candidatura do BE pode servir de megafone aos sectores mais oprimidos da classe trabalhadora e pode contribuir para o fortalecimento da esquerda para preparar as lutas que se seguem a seguir às autárquicas.