Amor entre eles, ódios contra nós – amor entre nós, ódio contra eles

A repetição dos encontros de conciliação amorosa entre Marine Le Pen do Rassemblement National (RN), partido de extrema-direita francês, com André Ventura do Chega, partido de extrema-direita português, é o principal argumento para que no dia 10 estejamos na rua a dizer com todas letras que o ódio não pode ter lugar na política portuguesa .

Mesmo sendo Ventura um autoproclamado nacionalista, no início do mês de Outubro de 2020, encontrou-se com a líder do RN para estreitar laços e não se mostrou muito preocupado quando a mesma deu uma entrevista onde afirmava ser descabido o ensino do português no ensino público francês já que o mesmo serviria para “fazer franceses os filhos dos imigrantes”. Apesar desse trambolhão no nacionalismo de Ventura, podemos perceber que as afinidades existem em temas muito concretos. O amor entre eles é gerado pelos ódios que têm em comum: contra pessoas ciganas, contra pessoas negras, contra imigrantes, contra refugiados, contra LGBTIA+, contra mulheres, contra islâmicos.

Le Pen, filha  e herdeira ideológica daquele que é conhecido como o principal guru da extrema-direita francesa, fundador do FN, não vacila no momento de apontar em meio à chamada “crise dos refugiados” o fecho de fronteiras como “o melhor aliado da sustentabilidade”. Mas, acima de tudo, o que une Marine Le Pen e o RN ao Chega de André ventura é o rompimento com os projetos dos partidos liberais e de direita “convencionais” que perderam tantos anos a tentar maquilhar o que não pode ser maquilhado.

Marine, à semelhança de André, Jair , Donald e Matteo, aparece como um rosto que diz as verdades duras que mais ninguém tem coragem de dizer. Por “verdade” podemos entender: todos os valores que sustentam a sociedade capitalista onde vivemos, mas que não são necessariamente verdades apuráveis, são crenças ideológicas. Todas as informações falsas e fabricadas contra comunidades islâmicas, refugiados, imigrantes, negras, ciganas , LGBTIA+ e mulheres ressurgem do meio palmo de terra onde as lutas das trabalhadoras dos vários estados europeus conseguiram enterrar e passam a ser estruturantes de forma explícita nos seus programas políticos como o fruto mais podre desse sistema onde vivemos.

Não deixa de ser caricato que todos esses nomes tenham conseguido organizar e dar voz aos impulsos e fenómenos mais podres de uma sociedade moldada à imagem e semelhança das elites europeias sob a máscara de “antissistema”. Eles são tão do sistema quanto os partidos de direita “moderados” que lhes trilharam o caminho, como é o caso do PSD, partido do qual Ventura fez parte, partido que aceitou travar acordo com o Chega nos Açores e também partido onde o atual presidente da República e também candidato a mais uma volta Marcello Rebelo de Sousa é filiado. O presidente das escolhas políticas mais estranhas. Opta por telefonar à Cristina, mas não à família de Ihor que foi assassinado pelas mãos da supremacia branca da polícia do SEF; na hora de repudiar as ligações entre Rui Rio ou o PSD dos Açores ao Chega também não ouvimos nada. O segundo L foi intencional, para que não esqueçamos a ligação do atual Marcello ao outro, último presidente do Estado Novo, padrinho do casamento dos pais de Marcelo Rebelo de Sousa e amigo próximo de sua família.

Portugal não é estranho à tentativa de banalização do fascismo ou de discursos de ódio.  Em Agosto de 2018 o SOS Racismo teve que avançar com um pedido público de retirada de Marine Le Pen como oradora da WebSummit, evento financiado em 1,3 milhões de euros dos bolsos dos imigrantes, negros, ciganos, mulheres, comunidade islâmica e LGBTIA+ portugueses e residentes em Portugal. Em 2019 os dirigentes e responsáveis pelas cadeias de hotel SANA não se sentiram obrigados a rejeitar o pedido de aluguer de sala para encontro entre Nazis europeus.

Amor entre nós, ódio aos valores deles

Ao que parece, existe uma cultura que paira no ar e que toca o coração de muita boa gente que é a cultura de taxar de opinião coisas que não o são, como as políticas de ódio racista, xenófoba, lgbtiafóbica e misóginas. No dia 10, Domingo, na Praça Luís de Camões às 11h estaremos num ato unitário para construir uma reposta ampla a esse não-tão-novo-fenómeno.

Não passarão é não passarão. Nem ontem, nem hoje e nem amanhã!

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