A coligação ou acordo à direita entre PSD, Chega, CDS e Iniciativa Liberal (IL), é hoje uma realidade nos Açores. Não é uma surpresa. O crescimento da extrema-direita é uma tendência mundial o que leva a que se dê uma recomposição da direita para que esta possa voltar ou manter-se no poder. Se olharmos para outros países na Europa, como por exemplo Espanha, verificamos que os acordos da direita (PP) com a extrema-direita (Vox) são já uma prática em regiões autónomas como é o caso de Madrid, Andaluzia e Murcia.
As eleições nos Açores representam assim o ensaio da direita para voltar ao poder nos Açores e…a nível nacional. Rui Rio já percebeu que o PSD para voltar ao poder em Portugal terá que se coligar com o partido neofascista. Daí começar na comunicação social e em alguns comentadores da direita a normalização do Chega comparando-o a partidos como o PCP e o BE. Esta comparação obedece ao objectivo de tentar passar a mensagem para a opinião pública que o Chega não é assim tão perigoso. É só mais um partido que participa no “jogo democrático”, normalizando as suas “ideias” reaccionárias, xenófobas e racistas.
Num contexto de fim da geringonça, de eleições antecipadas, crescimento da extrema-direita, e agravamento da crise económica e sanitária a perspetiva para 2021 é de uma agudização da polarização da luta política. A extrema-direita (Chega) e a restante direita arrastada pela primeira, tem radicalizado o seu discurso e ação, como assistimos com a polémica da disciplina de Cidadania, pelas manifestações racistas do Chega e agora pelo acordo da direita com o partido neofascista nos Açores. Ainda em relação à polémica da disciplina de Cidadania, é interessante verificar que entre as personagens que assinaram o manifesto está Passos Coelho e já há quem o chame para capitanear a volta da direita ao poder. É relevante não esquecer que foi Passos Coelho quem lançou André Ventura nas eleições autárquicas em 2017 em Loures. Independentemente de haver eleições antecipadas e, nestas, a direita conquistar a força necessária para Governar, a tendência é que esta perspetiva – de aproveitar uma crise política para se unir e voltar ao Governo – vai tornar-se cada vez mais a orientação geral de toda a direita. Cada força de direita irá lutar para, numa eventual futura coligação ou acordo, ter a maior força possível . Como se vê pelo cenário açoriano, as reticências mútuas entre PSD e Chega serão facilmente ultrapassáveis pela tentação de Governar. Este cenário fará do Chega um eixo cada vez mais central da recomposição da direita e, por esta via, da vida política nacional.
Perante este cenário a esquerda não pode ficar a assistir como se duma inevitabilidade histórica se tratasse a chegada de um partido neofascista ao poder mesmo que em coligação. Torna-se fulcral a construção de uma frente do movimento sindical, movimentos sociais (Feminista, Anti-racista, Climático e LGBT), Joacine Katar Moreira, BE e PCP para lutar contra o neofascismo e o Governo PS. A construção desta frente de luta é o que pode travar a direita de voltar ao poder e ao mesmo tempo construir uma alternativa política de esquerda independente do PS.