O voto contra do Bloco de Esquerda na votação na generalidade do OE2021 marca decisivamente o fim da Geringonça dos últimos anos. É discutível se esta decisão foi definida perante a certa viabilização do documento com base nas abstenções de outras forças e deputadas não-inscritas, mas é justificada só por si mesma.
Face à desorientação do governo PS marcada mais recentemente pela perda da maioria parlamentar nos Açores e a uma Direita em reorganização liderada pela extrema-direita, o Bloco de Esquerda será o principal alvo dos ataques tanto da Direita, como do próprio PS. Perante um possível fim de ciclo político que ainda carece de fundamentos objectivos, Costa considera novamente o BE um partido de Esquerda radical quando antes era sério, responsável e apoiante das políticas burguesas pró-capital. Nenhuma destas caracterizações está correcta. Costa ataca o BE acusando o partido de aliar-se novamente à Direita, quando foi o próprio PS a juntar-se a esta para reprovar propostas laborais e sociais da Esquerda. A chantagem de Costa ao afirmar que várias medidas laborais cairão nas negociações na especialidade se o BE não aprovar o OE2021 na votação final é mesmo é só a forma de arranjar um bode expiatório das falhas do OE2021 e do giro à direita, marcado não só pelas próprias decisões do PS face à crise pandémica como por eventuais aproximações ao PSD.
Considerando o processo que se segue e a evolução da pandemia, que se irá agravar, é necessário clareza e firmeza dos partidos de Esquerda na Assembleia da República, nomeadamente do PCP e Bloco de Esquerda, no sentido de esclarecer as reais intenções do governo PS e de construir uma alternativa política real.
Diogo Trindade
