Um surto de desemprego atingiu o país. O desemprego oficial ultrapassou os 8%. Entre os jovens, alcança os 25%. Somado o número de subempregados e pessoas que não procuraram emprego, alcançamos os 16%. A par dos milhares ainda em lay-off, é uma verdadeira epidemia.
Sem medidas corajosas, o desemprego irá aumentar, tal como a desigualdade e a pobreza. Mais desemprego significa também a redução dos salários de quem se mantém a trabalhar.
Várias medidas já foram propostas para travar o flagelo. A revogação das leis laborais da Troika, que facilitaram os despedimentos; a proibição dos despedimentos em empresas com lucros; investir na transição energética, criando milhares de postos de trabalho; contratar mais profissionais para o SNS;
Isto implica deixar de injectar dinheiro na banca, acabar com as PPP’s ou aumentar impostos sobre os ricos e as grandes empresas. A pandemia ensinou-nos que, para salvar vidas, é possível alterar a forma como a economia funciona. No combate ao desemprego é disso que se trata. Porém o Governo não parece disposto a isso.
A mão não pode tremer em defesa de quem trabalha
É neste contexto que se dão as negociações para o Orçamento de Estado. A direita espera que a crise jogue a seu favor. Rui Rio abre portas a acordos com o Chega e as sondagens dizem que a direita unida pode ultrapassar o PS. António Costa aproveita para dramatizar e diz que sem acordo com BE e/ou PCP, o Governo cai. Com isto pretende negociar um cheque em branco e aprovar um orçamento que pouco ou nada faça para travar o desemprego. Bloco de Esquerda e PCP estão numa situação difícil. Colocarão, e bem, a fasquia elevada. Além das medidas citadas, o aumento real do Salário Mínimo e dos salários da Função Pública estarão no caderno de encargos. O PS não se comprometerá com mudanças estruturais.
Costa tentará manter a esquerda na mesa das negociações só para não ficar com o ónus da intransigência. Mas o combate ao desemprego ou um reforço sério dos salários não virão do PS. A cartada de Costa é a chantagem de uma crise política, pela qual quer responsabilizar a esquerda. BE e PCP, desde a Geringonça, estão sempre sob esta ameaça. Algum dia terão de arriscar. Terão de confrontar seriamente o PS e apresentar-se como alternativa. Agora é o momento.
Unidade na Diversidade
Uma convergência de esquerda que expresse os interesses dos mais explorados e oprimidos pode ser essa alternativa. Mulheres, imigrantes, pessoas racializadas e LGBTI+ são as mais atingidas pelo desemprego. O Governo ignora esta realidade, a esquerda não pode fazê-lo. A unidade na diversidade, com BE e PCP, mas igualmente com a deputada Joacine Katar Moreira e o PEV, pode mobilizar as mais atingidas se der voz às suas reivindicações. Assim é possível construir uma maioria social que apoie uma alternativa ao PS sem abrir caminho à direita. O risco de uma crise política é grande. Mas o de não levantar uma alternativa de esquerda ao desemprego, pobreza e desigualdade é maior. Cedo ou tarde, há uma opção a ser tomada. Antes agora do que quando o desemprego tiver duplicado e a direita estiver unida para disputar o Governo.
O futuro ganha-se agora