A trágica morte de George Floyd assassinado às mãos da polícia de Minneapolis foi há mais de 2 meses. Mas o poderoso levante Negro nos EUA passado este tempo ainda continua nas ruas. Importa lembrar que estes protestos se dão num contexto de uma pandemia mas nem isso demove ou enfraquece o movimento. As manifestações têm sido participadas por milhões de pessoas em todo o país, sobretudo por jovens racializadas que saem à rua, se organizam e lutam contra a violência do estado. As mobilizações chamadas pelo movimento “Black Lives Matter” (BLM) provocaram um terramoto político não só pela sua duração, mas também pela popularidade dos protestos na sociedade norte americana e pela profundidade das reivindicações que apresentam.
A exigência de justiça para George Floyd, bem como para casos similares como o de Michael Brown e Trayvon Martin1 entre outros, por parte do movimento negro na rua rapidamente evoluiu para reivindicações mais avançadas como o desinvestimento na polícia e depois para o fim da polícia e das prisões2.
Este grande salto no carácter das reivindicações demonstra também que a consciência do movimento BLM e da população em geral, que se foi solidarizando aos protestos, evolui bastante rápido dado o impacto da morte de George Floyd, mas sobretudo, o racismo enorme que existe na sociedade norte-americana.
Em resposta Donald Trump, ao longo destes últimos 2 meses, intensificou a repressão sobre o movimento com o envio de forças federais para diversos estados como Minnesota, Nova Iorque ou Oregon. Esta medida colocou na ordem do dia a exigência da retirada dos agentes federais dos estados.
É importante não esquecer que as presidenciais são já em Outubro e Trump pretende restabelecer a situação o mais rápido possível para que possa ser reeleito. A violência por parte dos agentes federais tem aumentado vigorosamente, e este tem utilizado armas químicas3, espancamentos e inclusive raptos de manifestantes. Muitos destes estão a ter acusações muito graves de forma a serem condenados, e outros estão já estão a enfrentar a prisão. Há vídeos que relatam raptos de manifestantes em carros não identificados por parte dos polícias federais em Nova Iorque.4 Mas é na cidade de Portland, uma das cidades historicamente mais violentas com a comunidade negra nos EUA5, onde as manifestações tem estado mais fortes, nas últimas semanas, e onde este tipo de tácticas de violência por parte do estado tem sido mais fortes, tendo como objectivo aterrorizar e desmoralizar o movimento BLM para que os protestos vão acalmando até cessar.
Além disso, as acusações graves feitas aos manifestantes tentam alargar a criminalização também à esquerda e pretendem assim virar a opinião pública contra os manifestantes, o que não tem acontecido até agora.
Prova disso é que na cidade de Portland (Estado de Oregon) tem surgido alguns grupos que se solidarizam ao movimento negro impactados com repressão que assistem por partes dos agentes federais enviados por Trump. Um desses grupos mais mediáticos é o “Wall of Moms”6. Este é composto por mães da cidade de Portland que se prontificaram a proteger os manifestantes através de um escudo/barreira humana feito por elas entre os agentes federais e os manifestantes até que os agentes abandonem o estado de Oregon. Não são exemplo único, há também os “Wall of Vets” composto por militares veteranos. Estes exemplos demonstram que a opinião pública continua a apoiar os protestos apesar das manobras de Trump e da imprensa para os desacreditar. O candidato Democrata, Joe Biden, também alinhou em se distanciar do movimento BLM. Mas as contradições nos EUA são tão fortes no que toca à questão do racismo que aliado à pandemia, onde é a população não branca que mais sofre com esta, torna o BLM explosivo e com grande potencial. Os negros nos EUA não suportam mais sofrer a opressão empreendida pelas mãos de um estado policial supremacista branco, misógino, imperialista e capitalista. E mesmo o BLM sendo atacado por vários quadrantes políticos e de várias formas, passado 2 meses, embora com maiores ou menores manifestações, o certo é que permanecem na rua. E a prova que têm força é que na semana passada Trump e a sua administração foram obrigados a retirar os agentes federais do estado de Oregon7.
Se é verdade que nos últimos anos a classe trabalhadora de conjunto, e em particular os seus sectores mais explorados e oprimidos, tem sofrido derrotas, a verdade é que nos enche de força e esperança o exemplo do BLM.
1 https://blacklivesmatter.com/what-we-believe/
2 https://www.8toabolition.com/
3 https://www.leftvoice.org/22-portland-protesters-are-facing-federal-charges
4 https://www.leftvoice.org/protestor-kidnapped-by-nypd-in-unmarked-car
5 https://www.nytimes.com/2020/07/24/us/portland-oregon-protests-white-race.html
6 https://nypost.com/2020/07/20/portland-moms-form-human-shield-to-protect-protesters-from-feds/
7 https://www.rtp.pt/noticias/mundo/portland-casa-branca-cede-e-ordena-retirada-de-agentes-